Porto Velho e sua visão cubista
Após o Festival Casarão e a passagem do Espaço Cubo por Porto Velho, percebeu-se que a chama dos movimentos reacendeu, principalmente para o Projeto Beradeiros que encontra-se sobre uma intensa e tumultuada chuva de ataques e contra-ataques.
Antes de aprofundarmos na atual conjuntura da cena de Porto Velho, precisamos rever alguns pontos históricos do Projeto Beradeiros.
Festival Beradeiros: Surgiu em meados de 2005 com a necessidade e o objetivo de unir as cenas do Acre e Rondônia, bem como realizar eventos que valorizassem as composições próprias. O projeto logo ganhou uma grande aceitação por partes das bandas e do público local. Os contatos se intensificaram e chegaram a outros horizontes do país.
Após o Festival Beradeiros de 2007, grande parte dos fundadores do Projeto Beradeiros teve que deixar o projeto, alguns por motivos pessoais, outros motivos profissionais, surgiu então uma nova geração que ficou com a missão de dar continuidade a esse fruto. Com uma nova visão, novos ânimos, e com pouca participação das bandas de Porto Velho o projeto realiza o Grito Rock Porto Velho e logo depois acaba parando. Momento no qual ficou a tal reflexão “Aonde foi que erramos?”.
Espaço Cubo e o Circuito Fora do Eixo: O Circuito Fora do Eixo é uma rede de trabalhos concebida por produtores culturais das regiões centro-oeste, norte e sul no final de 2005. Começou com uma parceria entre produtores das cidades de Cuiabá (MT), Rio Branco (AC), Uberlândia (MG) e Londrina (PR), que queriam estimular a circulação de bandas, o intercâmbio de tecnologia de produção e o escoamento de produtos nesta rota desde então batizada de Circuito Fora do Eixo. A rede cresceu e as relações de mercado se tornaram ainda mais favoráveis às pequenas iniciativas do setor da música, já que os novos desafios da indústria fonográfica em função da facilidade de acesso à qualquer informação criou solo ainda mais fértil para os pequenos empreendimentos, especialmente àqueles com características mais cooperativas. (texto extraído do site www.foradoeixo.org.br).
Na mesma época que conhecemos o Fora do Eixo, logicamente, conhecemos o Espaço Cubo, afinal dá pra confundir né, sendo um coletivo nacional e internacionalmente conhecido, que nos mostrou e nos mostra até hoje a importância da troca de experiências e tecnologias, bem como a importância da organização de cada cena, porém houve uma parceria de fato com o Projeto Beradeiros.
A Atual Cena
Após a participação do Espaço Cubo como parceiro do Festival Casarão, realizando funções que
Este fato causou muita instabilidade na cena de Porto Velho, ocorre ataques agressivos e discussões muitas vezes tolas. Associou-se então tal fato a passagem do Cubo por nossa terrinha. Uma vez que o projeto sempre viveu entre amor e ódio, porém, mais ódio do que amor com os objetivos, muitas vezes ocultos do Espaço Cubo...
Por muito tempo houve sempre polêmica entre Porto Velho e o Espaço Cubo, que tal formato não caberia em nossa terra, que o cubo privilegia o estilo Indie, e blá blá blá.
Ouvi algumas opiniões sobre qual o efeito dessa passagem do Espaço Cubo, o que o Cubo poderia trazer de útil para nós e se algo mudou em nossa cena:
"Trouxe muitas coisas boas, abriu nossas cabeças, pra tipo: dá certo se tu correr atrás, com seriedade e afinco, acho que serve demais" (Raphael – Di Marco – Ji-Paraná)
“nem tudo que é possível lá hoje...é possível aqui hoje..
o pessoal do fora do eixo fazem política muito bem....é o que precisamos aprender...os caminhos políticos....a gente saber como conseguir e obter o que nos é de direito”
(Rafael Altomar – Bicho do Lodu)
“mudou, na articulação para fora do estado, ou seja, na possibilidade de troca de tecnologia com outros cantos do país” (Nettü – Vilhena Rock)
“Em parte, boas trocas de experiência que resultaram em acender a chama do independente mesmo em várias pessoas (aonde vai dar essa chama num sei, mas acendeu)” (Vinicius Lemos – Fan Rock)
O Circuito Fora do Eixo é uma das armas que as bandas independentes possuem, e que devem usar o máximo possível, pois pode facilitar a divulgação das mesmas, mas... Como tudo na vida existe o tal do "mas". Acho que há uma ênfase muito grande em certo estilo musical, o que acaba consequentemente diminuindo o espaço de outros estilos menos agradáveis aos ouvidos de quem não está acostumado com o “barulho”... Vejamos um exemplo. Num festival qualquer do Circuito Fora do Eixo os jornalistas vão sempre falar mais das bandas do estilo "indie" e bandas de punk, hardcore, heavy metal terão seus espaços reduzidos nos comentários e muitas vezes nem serão citadas, nada mais normal que isso. Ora se a especialidade e preferência pessoal é o "indie" nada mais justo que resenhar bandas de “indie”, o problema gira em torno das resenhas e apoio concedidos aos estilos mais "barulhentos", estas, sempre estão forradas, transbordando ignorância e preconceito musical, comentários do tipo "banda legal, mas não vejo futuro", “músicas iguais as do Sepultura” “músicas iguais as do Ratos de Porão”
São comuns nestes meios... E se trocarmos as figurinhas de lugar? Iríamos a um festival em que fosse o inverso os comentários seriam a mesma coisa, o punk, hardcore, heavy metal seriam enaltecidos,enquanto que o “indie” receberia exatamente as mesmas críticas, “parece cachorro grande” “bandas chatas” “parece los hermanos” então chego a seguinte conclusão: as coisas funcionam pra quem deve funcionar, pra Coveiros não funciona, prefiro continuar nos buracos do hardcore mesmo. (Giovanni Marini – Coveiros)
Acredito que em longo prazo essa passagem não tenha grandes efeitos, há algum tempo já se notam outros movimentos atuando
Como minha visão de futuro Administrador, vejo que o que é certo é a necessidade de uma organização maior dos movimentos, obtendo seriedade de seus membros, articulação, profissionalismo, planejamento, estarmos com os objetivos claros, com nossa missão e visão, e o que acho primordial, pensamento coletivo, se é pra ficar num coletivo de bandas, não podemos ser egoístas e querer beneficiar apenas a minha ou aquela banda, é preciso ser consciente, afinal, é um coletivo.
É necessário antes de tudo que o povo de Porto Velho conheça suas bandas. Valorizarmos o nosso produto, que os eventos sejam auto-suficientes e que se construa uma cena realmente forte.
Porto Velho hoje implora por uma organização de seus movimentos, é certo que não dependemos do Espaço Cubo, do Bush ou do Coelhinho da Páscoa ou quem quer que seja. Somos apenas dependentes de nossas atitudes e ações.
Elton Costa – Projeto Beradeiros – Rádio ao Vivo